Os livros são, desde sempre, os presentes que me deixam mais feliz. Já gostava de livros quando ainda nem sabia ler, mas todos os dias o meu pai me lia uma história antes de dormir. Pequenita e ensonada ficava encantada a ouvir as histórias e a imaginar países distantes com príncipes, princesas, fadas e bruxas.
Aprendi a ler com grande facilidade e rapidamente comecei a coleccionar livros. Existem na minha família diversos amantes de livros, e tinha a sorte de os receber com frequência nos aniversários e Natais.
Cresci na Figueira da Foz, local onde está a casa da minha família e onde são religiosamente guardadas as minhas preciosidades literárias da infância. A maioria dos meus amiguinhos também gostava de livros, eram para nós um divertimento à altura de qualquer outra brincadeira. Tenho pena da distância e dos percursos distintos que tomámos, pois actualmente relaciono-me com muito poucos apreciadores de livros (excepto de forma virtual que, apesar de não ser a mesma coisa, sempre vai colmatando esse vazio).
Os primeiros livros que li tinham obviamente mais imagens do que letras. Lembro-me de os ler horas a fio, muitas vezes terminava e voltava logo ao início, encantada com as gravuras e com o que imaginava através das frases. “O Casamento dos Passarinhos” era um dos meus favoritos nesta fase, mas havia mais como “Os Fatos Novos do Imperador” e os da Cristina (“Cristina Aprende a Nadar” e “Cristina Professora”). Agora, ao escrever este texto consigo lembrar-me de várias passagens e, inevitavelmente, sorrio com estas recordações tão queridas.
Um grande favorito era também o “365 Histórias de Encantar”, foi-me oferecido por uma professora primária e permitia a leitura de uma história por dia, coisa que nunca acontecia pois eu lia uma série de histórias de seguida.
Posteriormente fiz algumas colecções por iniciativa dos meus pais, que sempre me incutiram o gosto pela leitura. O meu pai comprava-me livros de aventuras, fez-me a colecção completa dos livros do Petzi, que nos proporcionou divertidíssimos momentos de leitura juntos. Já minha mãe, mais inclinada para os chamados “livros para meninas”, comprava-me livros da “Anita”. Gostava de ambos, possivelmente esta é uma das bases das leituras polivalentes que sempre fui fazendo, sem nunca me dedicar a um único estilo e tendo sempre vontade de conhecer coisas diferentes.
Fui crescendo e o género de livros foi mudando, adaptando-se à minha idade e às consequentes novas necessidades. Curiosamente comecei a ler livros que já existiam na infância dos meus pais e que continuaram a ser editados, como é o caso dos “Cinco” e dos “Sete”. Divertia-me muito com estas aventuras, sempre curiosa com o desfecho final. Por influência da minha tia (mais uma leitora compulsiva) alarguei os meus conhecimentos nos livros da Enid Blyton e fiquei completamente fã da colecção “As Gémeas”. Este ano alguns dos livros da Enid Blyton foram novamente editados, com umas capas mais atractivas e tipo de letra mais actual. Não tenho noção se esta “nova” colecção tem tido uma boa recepção pela nova geração de leitores, mas é quanto a mim, uma aposta excelente.
Como não podia deixar de ser, e à semelhança de quase todos os meninos da minha idade, coleccionava e lia os livros de “Uma Aventura”. Mas estes são apenas alguns exemplos pois fiz dezenas de colecções de literatura infanto-juvenil: “Carlota”, “Sissi”, alguma banda desenhada, livros educativos sobre diversos temas como Geografia, Robótica, Corpo Humano, O Universo, etc.
A certa altura os meus pais começaram a comprar-me outro tipo de livros, já que eu normalmente lia um livro de “Uma Aventura” no próprio dia em que mo compravam, já estava a precisar de saltar mais um degrau. Ofereceram-me então alguns clássicos em formato para criança, se é que isto se pode dizer assim. Eram uma espécie de resumo de livros conhecidos e conceituados como é o caso de “Jane Eyre” e “Mulherzinhas”. Gostei destas leituras mas continuava a ler tudo muito depressa, continuava a ler os livros novos com muita rapidez e logo ficava sem nada para ler, o que me deixava verdadeiramente desanimada.
Perante este cenário o meu pai sugeriu que eu lesse um Romance; um livro mais longo que duraria de certeza mais de um dia, e havia vários por onde escolher em minha casa… devia ter cerca de 13 anos quando li “O Crime do Padre Amaro” de Eça de Queiroz. Foi uma experiência completamente diferente para mim, apesar de não ser para a minha idade permitiu-me imaginar e viver muitas mais coisas do que os livros que tinha lido até então.
Desde essa altura têm sido centenas os livros que me acompanham diariamente e preenchem a minha vida de uma forma inigualável. Sou sem dúvida mais criativa, sonhadora, aventureira e perspicaz graças ao poder dos livros em estimular e desenvolver estas aptidões.
Os livros marcam-me desde a infância e tiveram um papel importante no desenvolvimento da pessoa que sou hoje. Gostava de ver nos jovens pais de hoje o carinho, cuidado e atenção em escolher livros para os filhos como eu tive dos meus pais. Foi possivelmente o melhor investimento que fizeram em mim.
Texto escrito para a rubrica “Livros da Minha Infância” do blogue Página a Página. Vejam aqui a publicação original, recheada de saudosas fotos escolhidas pelo Nuno Chaves.
Que giro, tive mais ou menos o mesmo percurso literário que tu... depois dos Cinco, Sete, Gémeas, Colégio de Santa Clara e Uma aventura, continuei rapidamente para leituras mais "pesadas", como o Diário de Anne Frank, Os filhos da Droga, livros de Tolstoi, Gorki, Dauphne de Maurier, Garcia Marquez, Isabel Allende, etc, etc... que bom.
ResponderEliminar"Os filhos da Droga" e "Viagem ao Mundo da Droga" foram dois livros que me marcaram bastante e que li também muito novinha. Nunca mais parei...
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