domingo, 24 de janeiro de 2016

Fim


Silêncio. Absoluto silêncio. Não sinto o frio mas estou numa gaveta gelada. É mais ou menos como as dos filmes mas menos cinematográfica, mais velha e usada, menos brilhante. Se calhar é porque estou dentro deste filme. Tenho uma etiqueta no dedo do pé. Fui aberto e cozido. O médico falava do jogo de ontem enquanto registava os dados do meu aneurisma cerebral. É estranho saber, já depois de morto, que tenho, ou melhor, tive um aneurisma cerebral, que na verdade podia ter morrido a qualquer momento, se calhar já há muito tempo. Agora, dentro da gaveta da morgue, teço considerações banais sobre a vida, em como este facto, se o tivesse sabido, teria mudado a minha postura. Teria? Teria mesmo sido suficiente para me fazer aproveitar melhor, nem que fosse só um pouco, os meus dias? A possibilidade de morrer a qualquer momento, se eu tivesse alguma vez pensado nisso a sério, teria feito diferença? Mas a possibilidade de morrer a qualquer momento é tão realista, e está tão presente que ninguém pensa nela. Afastam-se pensamentos sobre a morte quando se está vivo, mas tecer estas considerações já morto é inútil.
Então quando? Quando podia eu ter decidido viver? Viver de verdade, aproveitando dias e noites com a consciência da finitude, e não com o medo do dia seguinte? Como poderia eu, em vida, ter realmente vivido?
E agora, morto, por alguma razão consigo ouvir os meus pensamentos vivos e sentir a mais profunda solidão. Sabe-me bem esta solidão serena e irremediável, até agora não está a ser muito mau estar morto. Não tenho fome, sede, frio ou calor, não estou ansioso,  não preciso de um comprimido à mão para pôr debaixo da língua quando as horas me esmagam e o dia não tem piedade. Não ouço as vozes, nem as ordens, ou as ameaças. É bom este silêncio na minha cabeça, esta vontade de descansar, de parar, de ficar neste vazio como se tivesse voltado ao início e pudesse começar de novo. Mas não posso. Eu já estou na meta.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

O favorito do mês - Dezembro 2015


Quem me conhece sabe que não podia escolher outro para favorito. Em Teu Ventre, de José Luís Peixoto foi uma excelente forma de terminar um ano de leituras fantásticas.
Recomendo o livro e convido a ler a minha opinião aqui. Desta vez levam como bónus o video das fotografias (soa esquisito mas é isso mesmo) da apresentação da Moita. Com som se faz favor!

domingo, 3 de janeiro de 2016

Novos Habitantes - Dezembro 2015


O mês do Natal. Abençoadas todas as pessoas que não fazem ideia o que me oferecer e seguem as pistas que eu, desinteressadamente, vou deixando.
Bem hajam!