domingo, 11 de novembro de 2012

O Pior Livro - a minha estreia

A convite do Miguel Chaíça do blogue N Livros, que costumo acompanhar, escrevi um texto com o meu parecer sobre um livro que considero mau. Para mim esta foi uma nova experiência que considero enriquecedora.
Falar mal, neste caso escrever, também é estimulante, e fez-me pensar que é importante reflectir sobre os pontos menos positivos de todos os livros, mesmo daqueles que considero muito bons ou de que gostei muito. Focar todas as perspectivas é importante para aguçar o espírito crítico, desenvolver a originalidade e escrever melhor.
Transcrevo abaixo o meu texto, já publicado aqui.


Não me é fácil eleger um livro como o pior que alguma vez li. Simplesmente porque quando um livro não me interessa não o leio, deixo de parte, sem qualquer preocupação ou culpa por não chegar à última página. Pensei em escrever sobre um desses livros inacabados e desinteressantes que tenho vindo a deixar pelo meio, ou por vezes quase no início. Mas não achei certo, comecei a imaginar que um desses livros, umas páginas após o meu abandono, pudesse tornar-se algo fantástico. Seria muito injusto fazer uma má avaliação de um livro que, se eu tivesse insistido, me tivesse maravilhado e surpreendido.
Então, para evitar essas injustiças e possíveis pesos na minha consciência, decidi escrever sobre um livro que não gostei mas que li até ao fim. O esforço foi grande e a desilusão ainda maior.
Já li vários livros do José Rodrigues dos Santos e acho-os todos maus, apesar de alguns me terem proporcionado um certo entretenimento. “O Sétimo Selo” é péssimo; é o meu eleito para esta “cantiga de escárnio e maldizer”.
O meu interesse nesta leitura tem a ver com o tema – o aquecimento global e o futuro do abastecimento energético, e com a promoção que foi feita tendo como cenário a Antártida. Sinceramente achei que toda a ação do livro decorresse na Antártida, pela capa do livro, mas principalmente pela publicidade (enganosa) que foi feita com o próprio autor na Antártida. Lembro-me que, na altura, houve inclusive um suplemento da revista Volta ao Mundo com a viagem que o autor fez a esse ermo gelado para se inspirar na escrita do livro.
A Antártida fascina-me muito e deixei-me levar por essa ideia. Quando me apercebi que apenas seria feita uma curta referência inicial senti-me enganada.
Depois foi ler 500 páginas em que o autor se repete ao ponto de se tornar maçador, coloca informação “científica” de modo descabido – senti-me como se estivesse a dar uma volta num parque e de repente caísse dentro de uma enciclopédia, do nada surge excesso de informação trabalhada à pressa e que só serve para encher.
Não posso deixar de referir os lugares-comuns, o exagero de banalidades e cenas descritas sem a mínima envolvência literária. Um texto cru, sem beleza, que não me proporcionou prazer na leitura.
Há também a referir o personagem deprimente, Tomás Noronha, uma espécie McGyver tótó, que se safa das situações mais insólitas sem que se perceba como, e ainda chateia com os seus problemas pessoais e familiares.
Confesso no entanto a minha admiração pela capacidade de produzir livros de José Rodrigues dos Santos. Penso que tem editado um livro por ano, e todos com centenas de páginas, mantendo em paralelo uma atividade profissional intensa. Há quem diga (quem é mesmo muito mau, muito pior do que eu) que não é ele que os escreve, que existe uma equipa que faz toda a investigação e põe os livros em marcha. Não é descabido se pensarmos um pouco nisso mas sinceramente não me interessa. Não penso voltar a ler livros dele.
Maçador e desinteressante, este “O Sétimo Selo” é possivelmente um dos grandes culpados por eu decidir abandonar algumas leituras. Podem chamar-lhe trauma, mas a verdade é que com tantos livros para ler não vale a pena perder tempo a fazer sacrifícios.


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