domingo, 20 de janeiro de 2013

Medo de morrer


"(...) se vivêssemos até aos sessenta ou setenta anos, sempre a olhar para o buraco negro que não pára de crescer e depois, à medida que a morte de acercava, descobríssemos que não há, afinal, nada a temer? E se começássemos a sentir satisfação em fazer parte do grande círculo da natureza (recebe por favor os meus átomos de carbono)? e se estas metáforas calmantes, de repente ou mesmo aos poucos, começassem a convencer-nos? O poeta anglo-saxónico comparou a vida humana a um pássaro que sai da escuridão, entra numa sala de banquete vivamente iluminada e sai de novo para a escuridão do outro lado: talvez esta imagem aquiete a nossa angústia de sermos humanos e mortais. Ainda não posso dizer que resulte para mim. É muito bonito, mas o meu lado pedante insiste em salientar que qualquer pássaro sensato que entrasse a voar numa sala de banquete acolhedora ficaria empoleirado nas traves o máximo de tempo que pudesse, em vez de sair logo a correr." (Nada a Temer, Julian Barnes, pág.133) 

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