Livros novos no Kobo. Uma maravilha. Continuo a
espantar-me quando penso que, num objecto tão pequeno e leve, trago mais de vinte
livros. Coisa pouca que a maquineta leva uns mil livros. A mim vinte já me
surpreende, não os conseguiria transportar a todos na mala, e considerando que
tenho verdadeiros calhamaços na caixinha, livros com mais de seiscentas
páginas.
Para ler em qualquer lado, aproveitando todos os
instantes. Mas não é um livro. É bem pensado e satisfaz o leitor compulsivo, e
também o indeciso que não sabe o que ler a seguir e pode escolher entre uns
quantos com toques digitais. Mas não é um livro. Prático. Moderno. Mundano. Mas
não é um livro.
E depois há os sublinhados e os apontamentos nos cantos
das páginas dos significados das palavras novas e do que mais se quiser. Sim,
no Kobo também dá. Mas o pegar no lápis perde-se. E o som do lápis a percorrer
a folha? Aquele apontamento instantâneo que não se pode deixar fugir? E o cheirinho a
carvão? E claro, o cheiro dos livros.
Esta tarde, acomodada no meu canto de leitura, após uma
semana a ler no Kobo, senti que me faziam falta as páginas. Saudades de sentir
um livro nas mãos, andar páginas atrás e à frente com facilidade física e
sentir a familiaridade de um companheiro de sempre. E foi como se estivesse a
trair todos os meus livros, que me olhavam, desgostosos das estantes, lendo no
Kobo.
E há leituras para todas as ocasiões e locais. Se estava
a ler um e-book adaptável a qualquer circunstância, sem necessidade de grande
atenção ou silêncios, adequado para aproveitar qualquer pausa (mesmo que pouco
silenciosa), salas de espera, engarrafamentos ou transportes públicos, como se
quer de um aparelho como este, no silêncio do meu espaço transformou-se numa
leitura banal e pouco exigente. Uma sequência de linhas que compõem estórias.
Nada mais. Pouco para uma tarde de chuva, de chá quente e mantas, ambiente
literário exigente.
Inevitavelmente o tempo faz-nos leitores em constante
busca. Quando a mente está disponível alimento-a. Quando a concentração é
aceitável aumento os degraus da dificuldade, quero ler coisas que não são óbvias,
que envolvem esforço, que não percebo da primeira vez em que leio, e procuro
respostas, até perceber.
A culpa não é do Kobo. É que o tal livro, que me apeteceu
ler, está na estante física. E que bem que me souberam apenas trinta e sete
páginas de dificuldades.
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