Estou contigo porque gosto dos nossos dias todos iguais.
Encontrei aquilo de que os outros fogem. Rotinas. Gosto de saber com o que
posso contar. Controladora? Pouco aventureira? Todos gostamos do nosso canto, e
o meu é na companhia dos nossos silêncios, das coisas que gostamos, de sermos
uns bichos do buraco enquanto os outros exibem as suas vidas em festa.
Escrevo isto com as unhas da mão esquerda pintadas e as
da direita por pintar. Aproveito estas linhas para o verniz secar. Parvoíces.
Pintar as da mão direita é mais difícil, requer treino, aperfeiçoamento,
engenho. Agora já o faço melhor. É como essas teorias das pessoas que vivem
juntas, que superam crises e cedem e abdicam de coisas para ter outras. Eu faço
o que me apetece, não cedo, sou mandona e parva. Não posso estar com alguém
para ser o que não sou. Ao menos aqui, connosco, sou eu. Em outros palcos sou a
actriz falhada que sabes, da tristeza frustrada do fim do dia, de saber que o
dia seguinte será igualmente mau.
“Dói-me a garganta. Tu também minha querida.”
É por isto. Pela tua incondicionalidade mesmo quando não
me ouves. Pela constante segurança expectável. Pela ausência de surpresas, que
detesto. Ou só porque estás meio a dormir e já não escutas com clareza, mas
mesmo assim respondes algo revelador deste segredo.
Fotografia de Rui Garrido
Amei...
ResponderEliminarTão real, tão nós :)
:)
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