Espero por ti. Há tanto tempo que espero por ti e nunca
mais chegas. Ponho de lado a revista, pego no livro. Leio uma linha e levanto a
cabeça a ver se vens aí. Nada. Levanto-me. Estico-me. Espero-te. Todos os dias
desde há tanto tempo.
Então penso em ti. Ouço o teu riso na minha cabeça, como
uma música que tenha gravado para nunca mais esquecer. E é esse riso feliz que
me ampara de noite, quando adormeço no sofá e espero que o dia volte.
Sonho que me tocas e acordo. Em sobressalto. Mais uma
memória, não és tu. Sou eu. Só eu. Está calor e abro a janela para a noite sem
lua. O ar quente entranha-se na pele, formam-se gotas de suor no meu pescoço,
que imagino serem os teus lábios, os teus beijos, o teu cheiro.
Regresso ao meu banco na estação. Levanto o olhar a cada
comboio que chega, expectante quando as portas se abrem, e os passageiros
ganham o chão do seu caminho. Eu estou aqui e tu? Virás? Passou algum tempo,
não somos os mesmos. Passaram anos, demasiados talvez, outras pessoas.
Pensarias em mim com outras? Eu pensei. Muitas vezes. Demasiadas. Por isso
imagino o que poderia ter sido. Imagino incansavelmente. É esgotante pensar
tanto. Querer sempre o que não se tem, achando que o que se quer é o que se
merece.
Arrefece. Visto o casaco. Lembro a noite em que vagueámos
sós pela cidade. De madrugada ficou mais frio, a noite engoliu o Verão só para
os teus beijos me fazerem arder. Bebemos vinho ao pé do rio e o céu foi ficando
mais claro. Uma noite é o ciclo do que quer que houve. Isso e a promessa do
reencontro aqui, no mesmo lugar, uma experiência sociológica parva, todo este
tempo atormentada pelo “se”. Se eu esperar ele também espera? Se eu for ele
também vai? O dia chegou, eu estou aqui, com os sons daquela noite e o teu
cheiro na memória.
||
De comboio o tempo passa devagar e eu tenho pressa de te
ver. Porquê tanto tempo para este reencontro? Tanto tempo perdido à espera,
enganando os dias com outros encontros e as noites com outras na minha cama.
Éramos miúdos mas eu sabia, nessa noite, que estaria aqui, hoje, neste dia
marcado.
Quando sair do comboio será da mesma forma? Virás contra
mim sem veres por onde andas? Distraída com as malas procurando a linha,
atrasada para o comboio. O comboio não esperou que os nossos olhos se
largassem, e ficámos sós, a meio das viagens, numa encruzilhada de desejos
novos.
Olho pela janela e reconheço a paisagem. Ainda estou longe e já procuro por ti. Virás ter comigo?
Olho pela janela e reconheço a paisagem. Ainda estou longe e já procuro por ti. Virás ter comigo?
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