domingo, 19 de fevereiro de 2012

Também me sinto uma vencedora


Decidi partilhar um texto que escrevi para participar no Concurso Literário Breve História de Amor, recentemente divulgado pelo Tiago Rebelo e pela Leya, e por diversos blogues dedicados aos livros, entre os quais o planetamarcia.
Fiquei muito feliz por divulgar e participar nesta iniciativa. Quando soube que, dentro de algumas regras (manter segredo para com os restantes membros do Júri e não votar em mim própria), também podia enviar um texto meu, a minha imaginação criou “Madalena”. Apesar de não ter tido qualquer voto na sessão final do júri, o meu texto foi incluído na shortlist final das 9 melhores histórias. Obrigada aos que gostaram e me fizeram sentir também uma vencedora. Estou muito feliz.
Deixo mais uma vez os parabéns à Marlene Ferraz, a vencedora com o texto “O Tempo é um Absurdo”, e abaixo convido-vos a ler o “meu Madalena”.
Madalena
“Passo a mão no espelho embaciado da casa de banho depois do duche e recordo aquele amanhecer em Paris. Feliz. Sentindo a tua suave respiração e o calor do teu corpo. A cama revirada, os lençóis no chão, o sol acorda um quarto e testemunha uma noite louca de paixão.
Paris será sempre nosso. A dividirmos um croissant, a bebermos champanhe nus, a fazer amor até todo o corpo nos doer.
Madalena, és a minha menina má. Com idade para seres minha filha, tiraste-me do torpor dos meus sessenta anos. Não prestas, acabaste com o meu casamento e afastaste de mim os meus filhos. Mas acordaste-me. Deste-me anos de vida. Nunca me amaste mas contigo vivi até achar que podia morrer e já tinha tudo.
Malvada Madalena dos longos cabelos loiros, feiticeira de fogo. Efémera felicidade, tão boa mas tão curta. Recordo e sorrio e quero mais. E ainda hoje, todos os dias te vejo e sonho o que poderia ter sido se me amasses como eu a ti, sem interesse em nada mais além de mim.
Vamos regressar às esplanadas à beira mar para almoços que duravam horas e eu me perdia na mulher que julgava que tu eras, e tinha quem me ouvisse e me sentia o teu Rei. O Rei do mundo e de todas as criaturas. Esqueci tudo na tua presença, dei-te tudo o que pedias e o que não pedias mas insinuavas…e conseguias…e até parecia que a ideia partia de mim…
Fui enganado, roubado, vivi iludido mas feliz. Fui escravo dos teus desejos, fiz tudo o que pedias, dei-te o meu amor mas tu só querias o meu dinheiro. Doeu-me saber que és uma total banalidade, escumalha sem princípios, usas o sexo e as palavras doces como arma mortífera direitinha ao meu coração. Adorava, ainda assim, morrer mais um pouco nos teus braços, beber mais um pouco desse teu viciante veneno que me acorda e dá vida como o sangue que alimenta um vampiro.
Madalena, aqui sozinho penso em ti e no que dançámos em Paris, quando fugimos para a cidade-luz com desculpas esfarrapadas de trabalho. Deixou de haver noite ou dia, horas de dormir ou de acordar. Foste o meu tudo, vivi para ti, enchi-te de amor e jóias, as segundas um preço a apagar pelo amor que nunca me deste.
Serás tu de alguém Madalena? Queres amor? Ou chega-te viver assim a planear o próximo golpe com “olho” nuns sapatos de € 1000,00? Como aqueles que deixaste para trás em Paris, debaixo da cama do nosso quarto, e eu quase acreditei que o que importava para ti éramos nós, sem sapatos, nem roupa, nem jóias, nem nada…só nós…esquecendo o resto do mundo e vivendo intensamente.
Mentirosa Madalena, deste-me vida. Amo-te apesar da dor. Odeio-te para lá do sofrimento. Mas aprendi que estou vivo e ainda tenho tempo. Tenho muito para dar e quero encontrar ainda muitas vezes o amor, ainda que em breves histórias de loucura e tortura, quero sentir-me vivo, renascer cada manhã e viver.
Tremo de frio. O espelho já não está embaciado. Estou só. Triste mas não arrependido. Ainda me faz sorrir a nossa breve história de amor.”

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