sábado, 8 de dezembro de 2012

Dar livros


Livros são o melhor presente que há. Gosto de os receber mas também gosto de oferecer. Exceto quando me pedem para dar um dos meus livros. Sentimento de posse? Sem dúvida. Os meus livros são objetos emocionais, mesmo os que não gostei têm o seu lugar na estante, o seu espaço especial na minha vida.
Desde há umas semanas que tenho alimentado um desafio, tornar-me mais desprendida e dar um livro. Um dos meus livros. A ideia não foi minha. Também não me foi imposta. Foi habilmente sugerida, sem pressões, que é a melhor forma de por alguém a pensar, como uma semente que se aloja na mente e germina algumas ideias.
Na última sessão do Clube de Leitura trocámos livros. Quem quis levou um livro para dar. Eu levei. Percorri o caminho da dúvida. Primeiro pensei em não levar. Depois questionei-me para o que seria e imaginei campanhas de angariação de livros para escolas e/ou países distantes, para crianças que nunca leram um livro. E aqui deixei-me levar pelo altruísmo. Tretas. Que eu continuava sem querer dar livro nenhum.
Mas o mais óbvio e lógico seria que o livro fosse para trocar entre nós, membros do Clube. Haveria mais alguém a sofrer de “possessão de livros crónica” como eu? Ai só de imaginar toda a gente a partilhar livros alegremente e eu ficar de fora também me desanimava…
Então pensei em escolher um livro mau para levar. Daqueles mesmo intragáveis, que detestei e deixei a meio, de que não fosse sentir muito a falta. Mas esta ideia não avançou. Não poderia dar um livro com tanta energia negativa a alguém, mesmo que o novo dono viesse a gostar dele eu não ficaria bem comigo.
Decidi não pensar mais nisso. Se sentia que esta oferta não me daria prazer, não deveria avançar para esse suposto estádio de libertador desprendimento. A verdade é que não me sentia nada liberta, estava cada vez mais doente com a ideia.
Na véspera olhei para a estante. E decidi. Dar um livro. Dos meus. Experimentar. Escolhi um bom livro: “História da Gaivota e do Gato que a Ensinou a Voar”, de Luís Sepúlveda. Tinha dois, fiquei com uma edição mais recente, ilustrada. E dei, dei um livro. Não doeu. Não doeu demasiado. Além disso ganhei um livro, pois tratava-se realmente de uma sessão de trocas. Calhou-me um livro que já tenho, “Desgraça” de J.M.Coetzee. Há coisas caricatas, consegui ficar outra vez com um livro repetido!
Nota: no final da sessão troquei o livro com outra pessoa; uma espécie de exorcismo dos livros repetidos.

7 comentários:

  1. Graças a Deus que não sou a única! Fico sempre a pensar que as pessoas vão achar que sou egoísta, mas não tem mesmo nada a ver com egoísmo, é mesmo por sentimentalismos e por amar verdadeiramente os livros. É uma emoção que eu não sei explicar!

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  2. Não somos as únicas Sandra, lá na sessão do clube algumas pessoas revelaram o mesmo sentimentalismo! Beijinhos.

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  3. Também não consigo...
    Mas é mais ou menos recente. Antes andava muito pelo mundo das trocas, mas havia sempre uns livros que eram residentes permanentes. Agora nem isso. Sou demasiado possessiva com os livros... Já percebi que ñ sou a única! :D Beijinhos

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  4. Ufa! Não somos únicas... Como vos entendo!

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  5. Pois... é algo muito comum aos bookaólicos... também me revejo completamente e, nessas circunstâncias acabo sempre por fazer uma coisa... vou comprar um livro para dar... ou trocar... eu culpada me confesso... ;)
    Beijinhos

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